9.2.08

Um Herói do Nosso Tempo

Reproduzo, a seguir, artigo publicado em 06 de março de 2006 no Cineweb, de autoria da crítica de cinema Neusa Barbosa, sobre o filme "Um Herói do Nosso Tempo" (Va, vis et deviens), produção franco-israelense de 2004, dirigido pelo romeno Radu Mihaileanu.

Radu Mihaileanu é um diretor com o coração e a cabeça no lugar correto. Seu interesse por temas significativos nunca se esgota. Ele acerta ao eleger os muitos assuntos que compõem o enredo deste filme, um drama que volta seus olhos para refugiados africanos, intolerância racial e divisão familiar.

Num mosaico assim amplo, é fácil cometer erros. E talvez o grande equívoco deste diretor sensível tenha sido justamente não fechar mais o foco em seus temas, abrindo mão do apelo melodramático às vezes exagerado de algumas situações. É preciso confiar mais na inteligência do espectador – e também estimulá-la, como Radu soube fazer tão bem em seu segundo premiado longa, Trem da Vida, que relata uma inusitada experiência de judeus da Europa do leste procurando fugir ao holocausto.

Ele mesmo um expatriado, um judeu romeno que fugiu à ditadura de Ceausescu e estudou cinema na França, Mihaileanu é sensível ao tema do exílio. É a partir daí que inicia sua história, em 1985, quando o serviço secreto israelense, o Mossad, com apoio dos EUA, lança a chamada “operação Moisés”. A operação visa a retirada aérea dos Falachas, judeus etíopes perseguidos em seu país, para um campo de refugiados no Sudão. Ocorrem falhas e milhares deles morrem de fome e sede pelo caminho, que fazem a pé.

Mesmo assim, há quem consiga alcançar os campos de refugiados, onde se abrigam não só judeus como cristãos e outros. Um deles é um menino cristão, órfão de pai, cuja mãe dará um jeito para que seja levado para Israel protegido por uma Falacha que perdeu seu filho.

O menino ganha o nome de Schlomo (Moshe Agazai) e enfrenta uma série de percalços, onde o menor talvez seja fingir que é judeu. Aos 9 anos, sofre com a saudade da mãe, a quem pensa que nunca mais verá, e a inadequação no novo país, onde o racismo contra os africanos é um dado nada desprezível.

Schlomo percorre uma série de orfanatos, criando conflitos sem fim, até o dia em que tem a sorte de ser adotado por uma família amorosa, progressista, de esquerda e não-ortodoxa em termos religiosos – quase boa demais. Seus pais são Yael (Yael Abecassis) e Yoram (Roschdy Zem) e ele tem um casal de irmãos. Nesse ambiente, ele cresce, tornando-se um belo adolescente (Moshe Abebe), que viverá uma história de amor complicada com a filha de um rabino intolerante.

O principal defeito do roteiro de Radu e Alain-Michel Blanc é atravancar a trajetória do protagonista de um excesso de incidentes melodramáticos, que finalmente quebram a unidade do filme. Seria melhor também que se tivesse optado por um pouco mais de contenção emocional em todos esses encontros e desencontros.

O filme também colecionou prêmios, como os troféus do público e o do júri ecumênico no Festival de Berlim 2005 e o César, principal prêmio francês, de melhor roteiro original em 2006.

Fonte: Cineweb

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