20.1.11

Meu despertar na Romênia

13 de dezembro de 2010 foi há tão pouco tempo, mas para mim parece que já foi um marco há anos distante de agora. Foi nesse dia que saí de Fortaleza, Brasil, e parti para Bucareste, Romênia, sem saber que estava prestes a viver uma das experiências mais marcantes e singulares de minha vida.
 
Meu nome é Marcelo Moreira. Sou brasileiro nato, oriundo da pequena cidade cearense chamada Pentecoste. Lá vivi até os 18 anos de minha vida até ingressar no curso de letras da UFC. Sempre tive o sonho de viajar e conhecer o mundo, mas creio que a falta de planejamento e de coragem me prendeu no Brasil por muito tempo (que fique bem claro a minha paixão pelo meu país, apenas creio que viajar e se doar ao aprendizado do estranho, a sua cultura, ao seu habitual, é elemento essencial para o aprendizado de si próprio). Considero-me um tradutor, escritor, professor em constante aprendizado. Estudo atualmente em um curso de especialização em tradução na UFC. Sou membro de duas instituições bastante distintas: há cerca de 8 anos em um movimento social que visa a transformação social através da educação chamado PRECE; e em uma associação internacional de estudantes que visa o desenvolvimento de liderança estudantil chamada AIESEC. Resumidamente, foram as experiências que vivi nessas duas instituições que me fizeram a pessoa e o profissional de hoje. Foi também por causa dessas duas organizações que hoje estou em processo de transformação acelerado na Romênia.
 
Vim para a Romênia fazer um intercâmbio curto em uma ONG chamada Health Aid Romania. Essa instituição é simplesmente fantástica. Na década de 90, quando a Romênia ainda era comunista, muitas crianças abandonadas pelas mães, geralmente adolescentes, foram infectadas pelo vírus HIV nos hospitais daqui. Nessa época, era proibido falar de AIDS na Romênia. Isso mesmo, era PROIBIDO. As pessoas não sabiam o que era AIDS, e isso causava muito medo. Os médicos e enfermeiras não sabiam como tratar a doença e transmitiam o vírus para as crianças através de injeções infectadas e por transfusões de sangue. Eles achavam que poderiam pegar a doença pelo ar ou pelo toque, por isso sempre vestiam roupas especiais quando tinham de chegar perto das crianças, como aquelas que se veste quando se utilizam na apicultura. Por causa disso, muitas crianças morreram de doenças simples, como gripe. Certo dia, um grupo de profissionais de saúde da Health Aid UK vieram como voluntários para cá e ensinaram para as pessoas como se deve tratar pessoas com AIDS. Eles tocavam nas crianças, e isso assustou muito os médicos e enfermeiros daqui. Foi a partir desses profissionais que se começou a entender AIDS na Romênia. A ONG foi então criada e desde então HAR tenta integrar as crianças na sociedade. Mais do que tratamento correto, elas precisavam de afeto, afinal eram apenas crianças, sem família e infectadas com o vírus da AIDS por causa de um sistema de saúde público precário, senão repugnante. Por causa do contato com os falantes de língua inglesa, muitas das crianças falam inglês e, hoje, já são grandes e ajudam na ONG assim como foram ajudados. Atualmente a ONG cuida não somente das crianças infectadas naquele período, mas de quem precisa de ajuda. Eles são simplesmente incríveis. Estou muito feliz de estar aqui com eles, mas ao mesmo tempo preocupado, pois quero fazer um trabalho excepcional e ajudar da melhor forma possível.
 
Sempre me perguntaram por que eu escolhi a Romênia. Na verdade, ainda me perguntam por aqui. Tenho uma resposta pronta para isso que sempre utilizei: vontade de aprender a língua; os castelos e vilas medievais; inverno rigoroso; Leste europeu. Hoje paro para pensar sobre isso e não sei bem o porquê de ter vindo aqui. Eu nunca tive uma imagem distinta da Romênia, não sabia nada de língua nem de cultura. Hoje, depois de quase dois meses aqui, sinto algo tão fantástico que não sei como explicar. Não sei por que estou aqui porque sinto que há uma razão suprema inexplicável que me arrastou para cá. Tal razão me fez mudar paradigmas, preconceitos e medos que talvez demoraria anos para superar; ou até mesmo nem mudaria. Sou grato à AIESEC por isso, sou grato à HAR, sou grato à Romênia por me proporcionar tal felicidade e por me fazer enxergar coisas que há tanto tempo eu buscava enxergar.
 
Considero a Romênia minha segunda casa. Não preciso nem falar que sou muito feliz por ter escolhido este país para o meu primeiro intercâmbio. O fim do meu intercâmbio não significará o fim das amizades que fiz aqui, e sim o início de uma parceria que quero carregar por muitos e muitos anos. Volto para o Brasil no próximo dia 10 de fevereiro com a missão de fazer as pessoas enxergarem o que é a Romênia, com todos os seus problemas, mas também com todo o fantástico que carrega não somente em sua cultura, mas também em seu povo, que é geralmente hospitaleiro e deveras amigável.