27.9.13

A quéda de Bucarest em 1916

Em 08 de dezembro de 1916, o Correio Paulistano, em artigo de capa, intitulado A quéda de Bucarest, anunciava a entrada das tropas alemãs na capital romena, ocorrida dois dias antes, no contexto das ações da I Guerra Mundial. O texto original encontra-se abaixo reproduzido (na foto, tropas alemãs, comandadas por Erich von Falkenhayn, entram em Bucareste no dia 06 de dezembro de 1916):

Bucarest cahiu ante-hontem, como se previa desde alguns dias, em poder dos allemães. Está vencida a primeira e principal “étape” da acção dos exercitos centraes lançados contra a Rumania, exercitos que muitos julgaram condemnados a afogar-se no Danubio ou a ficarem sepultados nas ravinas do Caucaso [nota do blog: o autor decerto confundiu o Cáucaso com os Cárpatos]. Quando a Rumania se decidiu a entrar na guerra, a estrategia dos optimistas traçou um circulo, sobre a carta da Europa, abrangendo a Transylvania, a Dobrudja e a Bulgaria, e exclamou convictamente: “É aqui que vamos travar o prélio decisivo; é aqui que a estrella da Allemanha empallidecerá para todo o sempre”. Esses optimistas acordam agora, sobresaltados, do seu mau sonho. De facto, quaesquer que sejam as restricções, as metamorphoses e as gymnasticas de polemica que se façam em torno dos acontecimentos balkanicos, a ninguem é permittido duvidar do desastre que a conquista de Bucarest, sobrevinda a uma série de operações quasi fulminantes, representa para os alliados. Desastre militar, pois que o exercito rumaico não tornará a refazer-se deste golpe; desastre estrategico, pois que está absoluta e irremediavelmente mallogrado o principal objectivo que arrastar os alliados aos Balkans; desastre politico, porque nesta altura da guerra um facto de tão grande importancia abala as mais solidas convicções acerca do desenlace da conflagração; desastre moral, porque as potencias da “entente”, abandonando os rumaicos á sua sorte, deram provas, ou dum grande egoismo, ou duma grande impotencia... A responsabilidade dos acontecimentos da Rumania provocou já uma crise parlamentar na Russia, atirou a terra com o governo inglez, abalou a situação politica franceza. Cada qual accusa os outros de culpas em que todos foram solidarios. Que importa agora, porém, destrinçar responsabilidades, si estamos em presença do irremediavel? Não serão a discussão azeda nem as acres accusações que lograrão restabelecer um prestigio tão duramente ferido pela quéda da capital rumaica.

Seria curioso saber-se o que, dos acontecimentos, pensarão os rumaicos, que entraram na guerra de má vontade, impellidos pelo sr. Bratianu e pela Russia. A Rumania estava ligada, desde tempos afastados, por um tratado de alliança, á Austria-Hungria, tratado a que mais tarde adheriram a Allemanha e a Italia, pela força da situação em que o equilibrio europeu mantinha estas grandes potencias. Quando a guerra rebentou, o rei Carol, então ainda vivo, quiz que a Rumania cumprisse a letra dos seus tratados, declarando-se ao lado dos imperios centraes. Mas a resistencia que encontrou foi grande. O egoismo nacional pendia para a neutralidade absoluta e só se manifestava a favor da participação na guerra, ao lado do grupo de belligerantes que tivesse mais probabilidades de victoria, e no momento opportuno. Varias vezes se julgou, na Rumania, chegada essa opportunidade. Assim succedeu quando os russos invadiram a Galicia e se apoderaram de Lemberg e de Przemysl. Mas, o que se passou depois, logo dissuadiu os rumaicos das suas velleidades ambiciosas. Finalmente, em meados do corrente anno, a opportunidade da intervenção pareceu evidente. Brussiloff invadia a Galicia e a Bucovina; começara a energica offensiva do Somme; os alliados reforçavam poderosamente o exercito de Salonica. Bratianu decidiu a guerra. Mas, como a opinião publica reluctasse em acceitar o sacrificio que exigiam do paiz, combinou com a Russia o famoso “ultimatum” de 27 de agosto, no qual o governo de Petrograd collocava a Rumania num dilemma terrivel: ou entrava na guerra ou seria invadida pelos moscovitas, pela fronteira não defendida, porque os russos tinham necessidade de atacar a Bulgaria. A guerra foi declarada; a Rumania tomada sob a protecção da “entente”; a Transylvania invadida. Tudo pareceu facil a principio, até que os allemães começaram a mover os seus exercitos para oriente. Hoje, os rumaicos começam a pensar que nada pode já salval-os da sorte da Servia; e têm motivos de sobra para se arrependerem de ter abandonado uma neutralidade proveitosa, confiados em illusões, ou em promessas que os alliados não quizeram ou não puderam cumprir.

A Rumania, um foco de intrigas politicas

Em sua edição de 19 de setembro de 1926, o jornal brasileiro Correio da Manhã publicava o artigo A Rumania, um foco de intrigas politicas, abaixo reproduzido:

Emquanto Bucarest, a pequena Paris dos Balkans, ainda commenta os feitos tão mysteriosamente cheios de caprichos do principe Carol, o rei Ferdinando e a rainha Maria, vivem quase afastados do mundo num enclausuramento no palacio Cotrocino.

A rainha Maria da Rumania e o seu neto Mickel, proclamado principe herdeiro, em logar do seu pae o principe Carol

Desgostos de familia mudaram a vida dos soberanos.

O procedimento do principe Carol, para com a sua esposa, estarreceu a nação que, entre commentarios furtivos, procura sondar o seu futuro politico. Há presentemente na Rumania uma atmosphera de presagios inquietantes. Grupos com tendencias revolucionarias juntam-se nas viellas e lados sombros das ruas, em attitudes suspeitas, como se tivessem receio de qualquer coisa.

Nessa pittoresca Rumania, élo curioso entre as variedades multiplas do Oriente e do Occidente, existe o mais perfeito serviço de policia secreta imaginavel. Nos aerodromos e estações ferroviarias, até jornaes são confiscados aos viajantes, para que o povo não chegue a saber o que o mundo pensa da rainha Maria, do principe Carol e da regencia do seu filho que conta apenas 4 annos de idade.

Da imprensa, não se póde dizer que viva sob uma vigilancia garroteante e que jornalistas encham presidios e fortalezas, mas a atmosphera é como se assim fosse. O pequeno grupo que manda no paiz, governa com mão de ferro.

Aconselhados por membros da realeza estrangeira, que enaltecem a grande força da primogenitura nos thronos vacillantes da Europa, a Rumania tudo tem feito para induzir o principe Carol a desfazer a sua abdicação, considerada perigosa para a nação. Dahi a grande tolerancia dos soberanos e gabinete.

Não se acredita na Rumania que uma questão de amores bohemios tivesse levado o principe Carol a abdicar. A razão prende-se a causas politicas de Bucarest e a intrigas do gabinete.

O governo da Rumania é accentuadamente parlamentar, de força monarcha limitada e quasi nulla. Teria Carol se rebellado, contra a espectativa de succeder a uma corôa quasi sem força e significação?

Sendo demasiadamente novo o principe herdeiro, filho de Carol, foi constituida até uma Regencia para governar, caso o rei Fernandino [sic] não viva até que o jovem chegue á maioridade, o que é o mais certo, visto já contar o velho monarcha mais de 60 annos de idade. Nessa Regencia preventiva figuram personalidades hostis ao principe abdicante.

Emquanto a rainha Maria curte as suas maguas no palacio-monasterio, o pequeno grupo que governa a Rumania enfrenta grandes problemas.

Antes da guerra, esse paiz era o mais uniforme e governavel dos Balkans.

Como premio e compensação na participação da causa dos Alliados, tem hoje o duplo da sua antiga população e mais do dobro do territorio. Mas perdeu o seu todo homogeneo.

A Bessarabia, por exemplo, é um nucleo de perigos. Essa antiga provincia russa foi adquirida pela Rumania, pelo tratado de 1920, entre a Inglaterra, França, Italia e Japão.

Embora mais da metade da população da Bessarabia seja de origem rumaica, apezar de ter alphabeto proprio e falar lingua differente, tem como contra peso a classe dos camponios, aversa ás coisas de Bucarest, e ao proprio rei, que já foi alvo de attentados. E a situação peorou ainda mais com o recente tratado de neutralidade russo-allemão que parece dar á Russia uma mão livre sobre possiveis acções relativas á sua antiga provincia.

Bucarest teme que os camponezes adversos á Rumania se desliguem e peçam immediata incorporação á Russia.

Outro presente desagradavel da guerra foi a Bukovina, e parte oriental do Banat, onde lavram fundos desgostos.

Bratiano, figura influente da côrte e chefe político, quer a Rumania para os rumaicos, e estabeleceu que qualquer empresa que explore as unicas minas de petroleo e mineraes do paiz, se obriguem a deixar 55% das acções em mãos de capitalistas nacionais. Por mais que seja procurada pelo capital estrangeiro, os capitalistas que ali vão ter, têm que se submetter aos termos draconianos de Ioney Bratiano.

Os recursos economicos e financeiros do paiz estão em mãos dos exclusivistas apaixonados.

Quando, por exemplo, a filha do principe Stirbey casou-se com um inglez, perdeu, por lei, a sua nacionalidade e direitos hereditarios a certas propriedades rumaicas. O conselho de ministros, porém, abriu uma excepção especial e restaurou os direitos perdidos da princeza. Esses favoritismos afundam cada vez mais os desgostos latentes e a nação vive saturada de dissenções que podem tornar-se ainda mais perigosos.

Nação mais importante dos Balkans, com 16 milhões de habitantes, a Rumania parece não contar com as sympathias apparentes da Hungria que, maguada pela invasão de 1919, tem sentimentos de inveja e despeito.

Os rumaicos, diga-se desde já enfrentarão qualquer crise com altivez. Elles têm o sangue dos romanos colonisadores que, sob a chefia de Trajano, desenvolveram a fronteira da provincia de Dacia. Possuem uma cultura propria, canções nacionaes por Carpathos e Danubio. Na sua historia luzem Miguel, o bravo e Stephen, o grande.

O rei é filho [nota do blog: o rei Ferdinand I era na verdade sobrinho de Carol I] daquelle rei Carol cuja esposa foi Carmen Sylvia. A rainha Maria é neta da rainha Victoria, e estimadissima pelo seu povo, de quem captivou os sentimentos, usando quasi sempre os costumes nacionaes e visitando os humildes de condição, nas suas modestas choupanas.

O facto da população conservar-se fria á passagem do rei, e indifferente aos desgostos intimos da rainha, enclausurada no palacio Cotrocino, póde significar simplesmente que o povo em geral está ainda surpreso e estarrecido diante dos acontecimentos chocantes dos ultimos tempos e revoltado pelo modo como o governo administra o paiz. Elle cochicha, e conspira, espalhando segredos em surdina pelas viellas e ruas escusas da attraente e brilhante cidade, cuja gente alegre dansa á noite nos cabarets, ao som de cançonetas ciganas. Parecendo ingenuos, têm os rumaicos um pouco mais de intelligencia e sagacidade que os seus visinhos. Sobretudo são mais intrigantes e mexeriqueiros.

Pode ser que essa constante vigilancia e critica sardonica ás condições incertas da Rumania, seja uma circumstancia necessaria á sua propria conservação.

As Aventuras do Rei Carol em Londres

Em 15 de setembro de 1940, a Folha da Manhã, um dos principais jornais de São Paulo naquela época, publicava um curioso artigo intitulado As Aventuras do Rei Carol em Londres, com subtítulo Através do "dossier" de um agente da Scotland Yard - Revelações sensacionais, abaixo reproduzido na grafia original (na foto, o rei Carol II e Elena Lupescu, provavelmente em 03 de julho de 1947, dia de seu casamento no Copacabana Palace no Rio de Janeiro):

Depois de muito considerar, decidi confiar ao papel os detalhes do meu mais importante caso de investigação particular, que no meu "dossier" se encontra sob o titulo de "Carol da Rumânia". A data, abril de 1928.

Eu estava afastado das minhas funções oficiais na Scotland Yard, depois de 18 anos de serviço especial, e consequentemente livre para qualquer comissão concernente à minha especialização. Desejo esclarecer perfeitamente que se trata de um caso particular e que em hipótese alguma estava eu trabalhando para as autoridades britânicas.

Naquela época, Carol da Rumânia era um exilado passeando pela Europa com sua favorita, a moderna "Pompadour", Mme. Lupescu. Sua esposa, a princeza Helena da Grecia, com quem se casára em 1921, tendo desse casamento um filho nascido em 1923, permanecia na Rumânia e o menino fôra proclamado rei, com o governo exercido por uma regência.

A influência de Mme. Lupescu sobre ele era muito forte e por ela era inteiramente dominado; ele ia de país em país buscando um santuário para seus amores. Que espécie de mulher seria esta que até hoje controla a vontade de Carol, mesmo ocupando um trono? Ela é de altura mediana, cheia de corpo. Cabelos ondulados, de um ruivo acentuado - uma côr perigosa, segundo dizem os prudentes. Porém, o traço mais notavel nesta notavel beleza são os olhos que brilham, ora com ardor, ora desafiantes, ostentando uma tonalidade verde jade. Madame Lupescu é judia, com o encanto sazonado das mulheres desta raça. Veste-se absolutamente na moda, vestidos justos para revelar o talhe, e é louca por peles de raposa prateada. Pouco esforço e pintura necessita para aumentar seus atrativos.

Em companhia da atriz principal de um dos mais sensacionais dramas politicos de todos os tempos, Carol, o exilado, chegou à Inglaterra usando seu titulo de principe. Imediatamente apelou para o Home Office, solicitando permissão para residir permanentemente em solo britânico - a Inglaterra é um lugar famoso para a realeza exilada -, mas não obteve o que desejava.

O principe Carol foi advertido das condições sob as quais ele e Mme. Lupescu tinham tido permissão para ficar na Inglaterra, principalmente de que podia permanecer dois meses desde que guardasse as conveniências.

Segundo se depreende, não coincidiam as noções do principe Carol e do governo britânico sobre a maneira de guardar as conveniências...

Em abril de 1928, pouco tempo antes da chegada do principe, fui procurado por certos cavalheiros em Paris, membros da facção contra Carol no governo da Rumânia, solicitando meus serviços e de meus ajudantes na vigilância dos exilados com a apresentação de constantes relatórios sobre os seus movimentos. Era claro que o governo rumaico receava uma conspiração para Carol retomar ao trono.

Aceitei a incumbência. No mês de maio de 1928, Carol chegou à Inglaterra e eu reuni meus auxiliares para a vigilância. O casal rumou para uma encantadora residência no condado de Survey.

*

É lógico que, abrigando visitantes reais, a casa se tornasse interessante para os curiosos. Motoristas, gente em passeio, paravam frequentemente seus carros na estrada fronteira, sonhando ver os reais amantes. Vigiava a casa a polícia oficial alugada para protegê-los - serviço especial da Scotland Yard - e meus auxiliares.

Mensageiros do telégrafo transpunham constantemente os portões; carteiros carregados de correspondência e reluzentes automoveis iam e vinham. Quando o principe Carol deixou a casa, tomou imediatamente um carro com cortinas descidas, furtando-se assim completamente aos curiosos.

Os meus vigias nunca relaxavam a vigilância, dia e noite. No dia 8 de maio, o principe foi informado de que devia começar a se movimentar para a partida, mas de que não deveria partir por via aérea. Com desgosto Carol soube que as autoridades tinham conhecimento das ordens que ele dera para dois grandes aviões de passageiros permanecerem no aeródromo de Croydon, prontos a partir com destino desconhecido.

Agora a cena passa-se numa oficina de impressão situada em rua estreita, perto de Seven Dials, no centro de Londres. Imprimiam-se folhetos que ninguem entendia, porque eram escritos em rumaico. Assim que os primeiros milhares ficaram prontos, um mensageiro foi levá-los ao principe. 

Eu tinha conhecimento disso e instruções de Paris para apanhar alguns desses folhetos, o que, para mim, era o ponto principal de todo o caso. Conseguí-lo-ia? O problema era cheio de obstáculos.

Cismava ainda sobre as dificuldades, pesando-as bem, quando o mensageiro chegou com o precioso embrulho, deixando-o na porta da cozinha, bem sob as minhas vistas, coincidindo a chegada dele com a do empregado de uma casa de Londres, trazendo mantimentos e coisas para a casa. Vislumbrei minha oportunidade. Corri logo estrada abaixo e depois de alguma procura encontrei um açougue onde comprei a mais bela perna de carneiro que existia. O açougueiro de certo pensou que eu era um louco rematado, quando pedi que me alugasse uma encardida jaqueta e uma bandeja de madeira para carregar a carne. Vestindo um avental e carregando aos ombros a bandeja, voltei à casa, transpuz o portão e alcancei a porta da cozinha. Bati. Nenhuma resposta. Experimentei a porta, que estava aberta, e empurrei-a. A sorte estava comigo. Ali, no chão da cozinha, de mistura com os mantimentos, estavam os folhetos, facilmente identificaveis pela etiqueta. Em segundos estava de posse de alguns. Foi justamente o tempo de escondê-los no bolso, quando apareceu a creada para apanhar a carne. Minha presença nem foi notada, certamente por causa do avental, da bandeja e da carne; e se naquela noite eles apreciaram o jantar, não tiveram a menor idéia de que fôra o "moço do açougue" o organizador da festa!

Logo depois uma cópia dos folhetos estava a caminho de Paris, via aérea, endereçada àqueles a quem eu servia. Era o conhecido manifesto do principe dirigido aos seus correligionarios na Rumânia. O plano que tinha em mente era voar sobre o seu país e jogar do aeroplano milhares e milhares dos tais folhetos sobre a terra de que desertára.

Naquela noite, ele foi para a cama com calafrios. Na manhã seguinte, o meu colega de alguns meses atrás, inspetor Haines, da Scotland Yard, presenteou-o uma ordem para deixar a Inglaterra imediatamente.

Na Câmara dos Comuns, o secretário do Interior não escolheu palavras. Ele disse: "Sua presença na Inglaterra não é desejada". 

O grosseiro abuso do principe contra a hospitalidade inglesa voltou-se contra ele mesmo. O mau procedimento que teve não foi tolerado e dois dias depois ele desapareceu, sem encontrar impecilhos, com a sua companheira de cabelos ruivos, para vaguear de novo pela Europa. Telefonei para Paris. Minha missão estava acabada.

Dois anos depois, Carol deu o golpe de estado, voltando, pitoresca e dramaticamente, a Bucarest por via aérea. O seu partido colocou-o novamente no trono, arrebatando a corôa ao menino que foi relegado à situação de principe herdeiro.

A princeza Helena tem a simpatia de todo mundo e atualmente os fascistas da Rumânia são conduzidos por homens que se intitulam "Cavalheiros de Helena", defendendo-lhe a causa.

*

É uma coisa problemática a continuidade do real "eterno triângulo" da Rumânia. Mme. Lupescu - cujo nome traduzido quer dizer Lobo - vive reclusa, guardada, de residência em residência, passando a maior parte do tempo em companhia do seu real amante na Ilha das Serpentes - o misterioso posto militar, na embocadura do Danúbio, que se diz ser infestado por serpentes venenosas...

Dizem que os judeus rumaicos pediram a Mme. Lupescu para deixar o país, porque a presença dela trás a sombra ameaçadora de um possivel massacre sobre eles todos. Realmente, o "Esquadrão da Morte", da poderosa Guarda de Ferro, organização antisemita da Rumânia, tomou solene compromisso de assassiná-la.

Quando o primeiro-ministro rumaico M. Ducas, foi morto, em 1933, em seguida a uma entrevista com Carol, começou um reinado de terror, e ha indicios de um novo reino do terror, a não ser que ela seja banida do país, porque a favorita do rei é profundamente odiada por seus súditos. Durante o ano de 1934, forças poderosas trabalharam no sentido do afastamento da Lupescu e da reconciliação da princeza Helena.

Aqueles que conheceram a "Pompadour" do rei Carol nos primeiros tempos desse espetacular "love-romance", quando em Paris, no Hotel Claridge e na cozinha do Boulevard Bineau, em Neully, e que tiveram ocasião de vê-la recentemente são acordes em afirmar que ela não será por muito tempo a beleza orgulhosa, cujo círculo de magnetismo afrontava acintosamente o mundo. Murmura-se que ela está se tornando silenciosa, mais tímida, e de rosto pálido. E o mundo observa e conjetura sobre o que acontecerá amanhã.

24.8.12

DJ's romenos no sul do Brasil

A 24bit Management traz, pela primeira vez ao Brasil, a dupla romena de maior ascensão do mercado fonográfico, NTFO.

O duo são os novos contratados da famosa label DIYNAMIC MUSIC, tendo seu release “Nobody Else” figurando em top #06 GERAL no gigante Beatport. Dando continuidade aos trabalhos, seu novo release “ITS MAGIC”, em parceria com Rhadow, foi considerado um sucesso pela mídia especializada, tendo sua faixas figurando entre as mais charteadas do mes de Julho no respeitado Resident Advisor.

Dois jovens romenos, da nova onda de música eletrônica do país, tornaram-se um dos projetos favoritos dos personagens principais da indústria: Richie Hawtin, Marco Carola, Loco Dice, Luciano e cumpriram o seu sonho com o lançamento de seu álbum em vinil com o primeiro lugar, em janeiro de 2010. O álbum inclui tracks que rapidamente entraram nos sets dos DJs como: Solomun, Marco Carolas, Richie Hawtin.

A TechGrooves tem a honra de recebê-los em sua edição de número 43 que acontece, claro, no Club Vibe.

8.8.12

Uma Romênia invisível


Ignorada ou mal compreendida pelos demais, a vida destas nações é ainda mais intensa. Sua história, além de ser trágica, está como que transfigurada, poderíamos dizer, por uma permanente presença divina. Estes povos não conhecem o repouso, a serenidade, a alegria de criar no tempo. Constantemente atacados, só podem pensar em se defender. Sua história é mais que uma série de lutas pela independência ou pela honra: é uma guerra contínua, que dura séculos, pela própria existência. Em cada uma de suas batalhas, arriscam tudo: o direito à vida, sua religião, sua língua, sua cultura.[1]

Apaixonei-me pela Romênia fortuitamente, graças a um de seus célebres representantes, Emil Cioran. Nunca estive na Romênia, estou longe de ser fluente no idioma, e só conheço o país e sua cultura através de livros, filmes, música, pessoas que tive a oportunidade de conhecer. No entanto, apaixonei-me. Foi um amor que amadureceu aos poucos, não foi à primeira vista. Passei a me interessar pela Romênia conforme fui me apaixonando pela obra de Cioran – um autor que descobri através de seus livros escritos em francês – e descobrindo que ela estava intimamente ligada ao seu passado no enigmático país do Leste europeu de onde ele vinha. Emil Cioran: um romeno e, ainda por cima, da Transilvânia – região conhecida no Ocidente pela lenda do Conde Drácula, e que inspira no imaginário ocidental uma atmosfera sombria de florestas densas habitadas por seres mágicos e mistérios insondáveis.

As circunstâncias do meu encontro com Cioran também foram fortuitas: em 2003, ao ler a epígrafe de um livro sobre Pascal, chamou a minha atenção a grafia exótica (para mim) do sobrenome do autor, uma palavra de sonoridade agradável composta de 6 letras: C-I-O-R-A-N. Seu comentário sobre Pascal, somado à minha curiosidade, ao meu interesse em saber quem era aquele tal de “Cioran”, levaram-me ao encontro do Précis de Decomposition, traduzido no Brasil por José Thomaz Brum (1995).

Minha paixão por Cioran tornou-se ao mesmo tempo uma paixão pelo seu país. Para além dele, tudo o que vinha da Romênia passou a me interessar e, assim, fui aprendendo um pouco sobre a cultura e a história desse fascinante país. Porém, devo confessar que minha visão da Romênia sempre esteve (e ainda deve estar) muito influenciada pelo retrato que o meu romeno favorito pintou dela: uma nação cujo povo desenvolveu sua profundidade, sua fecundidade espiritual graças às derrotas e fracassos sofridos ao longo da história, que não teria sido nunca muito favorável aos romenos.

No começo, com a minha imaginação fértil e ao mesmo tempo limitada, era difícil imaginar o povo romeno. Para mim, Cioran era o arquétipo do romeno. Mas, ainda que ele carregue traços tipicamente romenos, como não poderia deixar de ser (ainda que no seu caso, devido à sua personalidade, eles possam se manifestar de maneira exagerada e mesmo distorcida), eu sabia que não podia generalizar, ainda mais em se tratando de um espírito idiossincrático como ele.

Imagino uma Romênia transbordante de espiritualidade, para além do cristianismo ortodoxo que é a sua religião oficial. Uma Romênia permeada de heresias e crenças populares subversivas, atravessada por um elã místico que remonta aos primórdios dos tempos – um país em que a ortodoxia encontra o bogomilismo. Uma Romênia cuja riqueza reside em sua fragmentação, em sua multiplicidade: um ponto de intersecção de povos e culturas tão antagônicos que o amálgama criado a partir desse encontro parece engendrar uma espiritualidade abismal e explosiva.

De acordo com Vasilica Cotofleac [2], filósofa romena que vive em Caracas, a visão de mundo do romeno primitivo “se define a partir de uma consonância com a Weltanschauung ancestral do povo, resumida, sob o termo de ‘cosmicismo’, como uma intuição da harmonia universal e um sentimento de participação na totalidade, a visão de um equilíbrio essencial entre natureza e espírito”. Cotofleac explica que o toposcultural e espiritual do povo romeno é marcado pela condição de ser-entre, devido a sua identidade étnico-cultural moldada, ao longo dos séculos, na intersecção de elementos étnico-culturais distintos. Os romenos teriam incorporado essas duas tradições (e tantas outras) sem, no entanto, unificá-las num único corpuspsicocultural, numa unidade identitária estável e harmônica. O resultado é que eles teriam desenvolvido uma consciência existencial agônica em cujo fundo está o conflito entre elementos culturais incongruentes, de onde o sentimento de uma indeterminação, de um vazio topológico essencial. Muito do misticismo de Cioran parece fincar raízes neste terreno movediço que é o universo espiritual romeno. Segundo Cotofleac, numa situação como a do romeno, “o homem deve conservar sua ‘verticalidade’ como em areia movediça, alcançar a estabilidade no... instável”. A Romênia é, para mim, uma geografia vertical, uma entidade espiritual e não histórica, uma nação voltada à eternidade, ao absoluto. Como descreveu Eliade, um país “transfigurado por uma permanente presença divina”.

Rodrigo I. R. S. Menezes, agosto de 2012


Baiano de Salvador vivendo em São Paulo desde os 9 anos, Rodrigo I. R. S. Menezes é bacharel em Filosofia, Mestre em Ciências da Religião e Doutorando pela PUC-SP. Desde o mestrado, seu projeto de pesquisa envolve a obra do pensador romeno radicado na França, Emil Cioran. 

Ilustração: "City in Transylvania", desenho do artista holandês Stefan Bleekrode, retratando cidade imaginária parcialmente baseada na arquitetura das cidades transilvanas de Brasov, Sighisoara e Sibiu.

[1] ELIADE, M. Los rumanos. Bucareste, Meridiane, 1992, p. 27
[2] Cf. COTOFLEAC, V. Dimensiones espirituales. A Parte Rei. Revista de Filosofía. http://serbal.pntic.mec.es/~cmunoz11/vasilica40.pdf

22.12.11

Senhorita Christina

O selo Tordesilhas da editora Alaúde de São Paulo, sob a inspirada liderança de Joaci Furtado, acabou de lançar a novela Senhorita Christina, do romeno Mircea Eliade, com tradução de Fernando Klabin e ilustrações do argentino Santiago Caruso.

Eis abaixo o texto de apresentação da obra, promovido pela editora:

Depois de tantos vampiros amansados, que até renunciam ao sangue humano, nada como oferecer terror de primeira qualidade ao público apreciador do gênero, permeado pela maldade que fez a carreira e a fama desses seres meio mortos, meio vivos.

Senhorita Christina é uma novela rigorosamente dentro dos padrões internacionais do vampirismo, com um detalhe: foi escrita por um dos maiores intelectuais do século XX, Mircea Eliade, mais conhecido como historiador das religiões, e no país de origem do conde Drácula – a Romênia. 

O ano é 1935. Ígor, jovem e belo artista plástico, e o professor Nazarie, arqueólogo, são hóspedes do imenso casarão sede de “Z.”, latifúndio decadente em Giurgiu, distrito na fronteira romena com a Bulgária. A senhora Moscu, dona da propriedade, vive com as filhas Sanda, uma jovem adulta, e Simina, de nove anos. À medida que os dias – e sobretudo as noites – passam, fenômenos cada vez mais estranhos se sucedem, a começar pelo comportamento da senhora Moscu – acometida de súbitas ausências, como que hipnotizada por alguém – e de Simina, cujo cruel cinismo é incompatível com uma criança. Sanda, por sua vez, parece prisioneira de um terrível segredo que não consegue ou não pode explicar a Ígor, por quem se apaixona. Aos poucos, os hóspedes percebem a ascendência de senhorita Christina, irmã da senhora Moscu morta aos vinte anos, durante uma revolta de camponeses que tomou a Romênia em 1907. Seu quarto permanece intocado, e o enigmático retrato da dama domina o aposento, impressionando Ígor. Simina diz conversar com a tia morta e ela mesma começa a aparecer em sonhos para o artista, a quem revela sua paixão. Sonho e realidade vão se mesclando, e Ígor já não sabe distinguir se delira com a presença de Christina em seu quarto, onde ela deixa a inconfundível fragrância de violeta, ou se está se envolvendo com a loucura de uma família doentia. Tudo se encaminha para o embate velado entre Christina, mistura de fantasma e vampiro, e Sanda, que disputam, em condições bastante desiguais, o amor do mesmo homem. Este, por sua vez, é acossado pela volúpia da morta-viva, em cenas de extrema sensualidade, enquanto se compromete com Sanda – já agonizante no leito, atacada por moscas espectrais que vão lhe sugando o sangue. O final é apoteótico, e não se revela aqui para se preservar o prazer da leitura.

Porque, de fato, a leitura de Senhorita Christina é prazerosa, sobretudo para os que apreciam o suspense e o terror. A atmosfera é lúgubre, mas sem aqueles exageros que hoje até soam cômicos: nada de dentes caninos protuberantes, castelos tenebrosos, morcegos ameaçadores ou urnas funerárias que servem de cama quando surge a aurora. A fatalidade impera, e todos os personagens são prisioneiros da presença diabólica de Christina até o desenlace da narrativa. E todos são psicologicamente densos, ao ponto de Simina, com sua perfídia protegida pela aparente fragilidade de criança, aterrorizar o leitor. Ao mesmo tempo, uma intensa sensualidade permeia o livro – acusado de “pornográfico”, quando publicado em 1936, o que valeu a Eliade uma suspensão temporária da universidade onde lecionava.

Em tradução direta do romeno, a luxuosa edição do Tordesilhas guarda outro presente: as belas ilustrações de Santiago Caruso, argentino que ilustrou A condessa sangrenta, de Alejandra Pizarnik, também publicado por este selo. O posfácio é do romeno Sorin Alexandrescu, sobrinho de Mircea Eliade e especialista na obra do tio.

28.7.11

Mais Noica no Brasil

Mais um momento de ápice nas relações culturais entre o Brasil e a Romênia: foi lançado este mês, em São Paulo, mais um volume da obra do filósofo romeno Constantin Noica. Trata-se do Diário Filosófico, de 1944, traduzido pela primeira vez para o português por Elpídio Mário Dantas Fonseca e publicado pela É Realizações.

30.5.11

Raul de Souza in concert la Iasi

Profitand de turneul european al cunoscutului muzician, Centrul Cultural Francez Iasi va avea placerea sa-l primeasca, pentru prima data in Romania, pe marele Raul de Souza, un nume de referinta pentru muzica de jazz interpretata la trombon. Concertul de jazz va avea loc pe 2 iunie 2011, orele 20.00, la Casa de Cultura a Studentilor Iasi.

In cursul celor 50 de ani de cariera internationala, Raul de Souza a dat concerte in compania trupelor si a starurilor Sonny Rollins, Sarah Vaughan, J.J. Johnson, Cannoball Adderley, Wayne Shorter, George Duke, Jack Dejhonette, Frank Rossolino etc. 

Raul de Souza a realizat 12 albume in nume propriu si a participat la numeroase inregistrari in Brazilia, tara sa de origine, in Statele Unite, unde a trait timp de 18 ani, si in Franta, unde locuieste acum. Este considerat de catre presa de specialitate internationala (Down Bwat, New York Magazine, Rolling Stone...) drept unul dintre cei mai mari artisti ai trombonului in lume.

23.2.11

Quem se lembra de Boulanger?

Ghita Bulencea, mais conhecido internacionalmente como Georges Boulanger, foi um dos mais célebres violinistas internacionais de música de café-concerto do período entre as duas guerras mundiais. Nasceu em 1893 na cidade romena de Tulcea, no seio de uma família cigana com longa tradição musical. 

Criança prodígio, Boulanger foi iniciado pelo pai na arte do violino e, aos 12 anos, recebeu uma bolsa para estudar no Conservatório de Bucareste. Três anos depois, foi levado para Dresden pelo célebre violinista húngaro de origem judaica Leopold Auer, com quem estudou durante dois anos.

Em 1910, Leopold Auer declarou ao jovem Boulanger, que então contava 17 anos, que ele já era um violinista maduro, presenteando-lhe com um violino que utilizará até o fim da vida. Por recomendação de Auer, o jovem romeno foi empregado como primeiro violinista num café de São Petersburgo freqüentado por aristocratas.

Em 1917, com a Revolução Bolchevique, Georges Boulanger deixou a Rússia e voltou para a Romênia, de onde partiu para Berlim em 1922, onde continuou tocando para os aristocratas russos que haviam se refugiado na capital alemã. A partir de 1926, a fama começou a visitá-lo, Boulanger passando a tocar em programas de rádio transmitidos para toda a Alemanha e a  se apresentar nos mais famosos cafés de Berlim e outras capitais européias. 

Boulanger viveu na Alemanha até 1948, quando se mudou para o Brasil e passou a tocar no Copacabana Palace do Rio de Janeiro, percorrendo o país inteiro com apresentações de imenso sucesso. Lá ele deve ter-se encontrado com o rei romeno Carol II, exilado no Copacabana Palace desde 1947. Boulanger mais tarde se mudou para a Argentina, onde veio a falecer em 1958.

Mais informações sobre o artista podem ser obtidas no site argentino dedicado a sua vida e obra.

Fonte: Wikipedia

2.2.11

Música de Crowl em Bucareste


A obra do compositor brasileiro Harry Crowl intitulada Na Perfurada Luz, em Plano Austero, quarteto de cordas no.1 (primeira parte acima, segunda parte abaixo), foi apresentada no dia 16 de dezembro de 2010 pelo Quarteto Florilegium, no Palácio Cantacuzino em Bucareste, durante o VI Festival MERIDIAN, da seção Romena da Sociedade Internacional de Música Contemporânea. 

20.1.11

Meu despertar na Romênia

13 de dezembro de 2010 foi há tão pouco tempo, mas para mim parece que já foi um marco há anos distante de agora. Foi nesse dia que saí de Fortaleza, Brasil, e parti para Bucareste, Romênia, sem saber que estava prestes a viver uma das experiências mais marcantes e singulares de minha vida.
 
Meu nome é Marcelo Moreira. Sou brasileiro nato, oriundo da pequena cidade cearense chamada Pentecoste. Lá vivi até os 18 anos de minha vida até ingressar no curso de letras da UFC. Sempre tive o sonho de viajar e conhecer o mundo, mas creio que a falta de planejamento e de coragem me prendeu no Brasil por muito tempo (que fique bem claro a minha paixão pelo meu país, apenas creio que viajar e se doar ao aprendizado do estranho, a sua cultura, ao seu habitual, é elemento essencial para o aprendizado de si próprio). Considero-me um tradutor, escritor, professor em constante aprendizado. Estudo atualmente em um curso de especialização em tradução na UFC. Sou membro de duas instituições bastante distintas: há cerca de 8 anos em um movimento social que visa a transformação social através da educação chamado PRECE; e em uma associação internacional de estudantes que visa o desenvolvimento de liderança estudantil chamada AIESEC. Resumidamente, foram as experiências que vivi nessas duas instituições que me fizeram a pessoa e o profissional de hoje. Foi também por causa dessas duas organizações que hoje estou em processo de transformação acelerado na Romênia.
 
Vim para a Romênia fazer um intercâmbio curto em uma ONG chamada Health Aid Romania. Essa instituição é simplesmente fantástica. Na década de 90, quando a Romênia ainda era comunista, muitas crianças abandonadas pelas mães, geralmente adolescentes, foram infectadas pelo vírus HIV nos hospitais daqui. Nessa época, era proibido falar de AIDS na Romênia. Isso mesmo, era PROIBIDO. As pessoas não sabiam o que era AIDS, e isso causava muito medo. Os médicos e enfermeiras não sabiam como tratar a doença e transmitiam o vírus para as crianças através de injeções infectadas e por transfusões de sangue. Eles achavam que poderiam pegar a doença pelo ar ou pelo toque, por isso sempre vestiam roupas especiais quando tinham de chegar perto das crianças, como aquelas que se veste quando se utilizam na apicultura. Por causa disso, muitas crianças morreram de doenças simples, como gripe. Certo dia, um grupo de profissionais de saúde da Health Aid UK vieram como voluntários para cá e ensinaram para as pessoas como se deve tratar pessoas com AIDS. Eles tocavam nas crianças, e isso assustou muito os médicos e enfermeiros daqui. Foi a partir desses profissionais que se começou a entender AIDS na Romênia. A ONG foi então criada e desde então HAR tenta integrar as crianças na sociedade. Mais do que tratamento correto, elas precisavam de afeto, afinal eram apenas crianças, sem família e infectadas com o vírus da AIDS por causa de um sistema de saúde público precário, senão repugnante. Por causa do contato com os falantes de língua inglesa, muitas das crianças falam inglês e, hoje, já são grandes e ajudam na ONG assim como foram ajudados. Atualmente a ONG cuida não somente das crianças infectadas naquele período, mas de quem precisa de ajuda. Eles são simplesmente incríveis. Estou muito feliz de estar aqui com eles, mas ao mesmo tempo preocupado, pois quero fazer um trabalho excepcional e ajudar da melhor forma possível.
 
Sempre me perguntaram por que eu escolhi a Romênia. Na verdade, ainda me perguntam por aqui. Tenho uma resposta pronta para isso que sempre utilizei: vontade de aprender a língua; os castelos e vilas medievais; inverno rigoroso; Leste europeu. Hoje paro para pensar sobre isso e não sei bem o porquê de ter vindo aqui. Eu nunca tive uma imagem distinta da Romênia, não sabia nada de língua nem de cultura. Hoje, depois de quase dois meses aqui, sinto algo tão fantástico que não sei como explicar. Não sei por que estou aqui porque sinto que há uma razão suprema inexplicável que me arrastou para cá. Tal razão me fez mudar paradigmas, preconceitos e medos que talvez demoraria anos para superar; ou até mesmo nem mudaria. Sou grato à AIESEC por isso, sou grato à HAR, sou grato à Romênia por me proporcionar tal felicidade e por me fazer enxergar coisas que há tanto tempo eu buscava enxergar.
 
Considero a Romênia minha segunda casa. Não preciso nem falar que sou muito feliz por ter escolhido este país para o meu primeiro intercâmbio. O fim do meu intercâmbio não significará o fim das amizades que fiz aqui, e sim o início de uma parceria que quero carregar por muitos e muitos anos. Volto para o Brasil no próximo dia 10 de fevereiro com a missão de fazer as pessoas enxergarem o que é a Romênia, com todos os seus problemas, mas também com todo o fantástico que carrega não somente em sua cultura, mas também em seu povo, que é geralmente hospitaleiro e deveras amigável.

21.9.10

Blecher em português

Acabaram de ser publicados poemas de autoria do escritor romeno Max Blecher, traduzidos por Fernando Klabin para a primeira edição, de setembro de 2010, da revista (n.t.) Revista Literária em Tradução, a qual pode ser acessada online ou descarregada gratuitamente em formato pdf.


Editada por Gleiton Lentz em Florianópolis, a revista virtual constitui iniciativa valiosa e rara na paisagem brasileira, procurando revelar ao público, com alto cuidado editorial e sublinhada preocupação estética - incluindo um suplemento de arte e álbuns de música - autores pouco conhecidos do mundo inteiro, com seus textos em apresentação bilíngüe.

Max Blecher (1909-1938) é um desses autores singulares que não suporta rótulo. Comparado a Franz Kafka e Bruno Schulz, considerado vanguardista, surrealista, modernista, intimista, ele constitui, na literatura de língua romena, fenômeno único que só nos últimos anos vem sendo reconhecido na própria Romênia e em plano mundial. Nascido no seio de uma abastada família judia em Botosani, na Moldávia setentrional, o jovem Blecher teve de interromper seus estudos de Medicina em Paris ao ser diagnosticado com o mal de Pott, que o confinou ao leito em seus últimos 10 anos de vida, passados na pequena cidade moldava de Roman. Isso não o impediu, contudo, de se atualizar quanto às tendências culturais européias e manter correspondência com André Breton, André Gide e Martin Heidegger, além de numerosos intelectuais romenos. Embora restrita em páginas como foi sua vida limitada em anos, a intensidade de sua obra literária parece refletir a lógica de suas últimas palavras: Vivi em 29 anos mais do que outras pessoas em 100.

20.9.10

Brazilienii nu stiu ce e criza

Brazilia este una dintre cele patru tari emergente cu cea mai rapida dezvoltare economica, alaturi de China, India si Rusia. Expertii spun ca economia acestei tari va creste cu pana la 65% in urmatorii zece ani.

Veja, un saptamanal de afaceri, sustine ca la fiecare zece minute inca un brazilian devine milionar. Cine vrea sa-i numere ar putea face un tur al cartierului Barra da Tijuca din Rio de Janeiro, intesat cu centre comerciale si locuinte de lux.

Barra este fieful brazilienilor bogati, emancipati, sedusi de stilul american de viata. De altfel, le place sa creada ca traiesc intr-un Miami Beach autohton.

Magazinele de lux si locuintele confortabile pot fi gasite, insa, si in alte colturi ale Braziliei, datorita clasei de mijloc in expansiune. Asa ca marcile europene rafinate nu ocolesc nici orase mai mici precum Porto Alegre sau Salvador.

Tot mai mare cautare au si masinile puternice. In ultimele 12 luni, vanzarile pentru marca BMW, de exemplu, au crescut cu 470%. Incurajate de asemenea cifre de basm, Bentley si Aston Martin se pregatesc si ele sa dea asaltul pe piata braziliana.

Potrivit statisticilor, numarul bogatasilor din Brazilia l-a intrecut, proportional cu populatia, pe cel din Australia si Spania, iar densitatea milionarilor a propulsat tara pe locul al zecelea intr-un clasament mondial.

In Brazilia, averile par a fi la indemana oricui e perseverent si muncitor. La numai 27 de ani, de pilda, Alexandre Tenembaum este deja patronul unui imperiu in devenire. In urma cu un an si jumatate a deschis primul magazin de iaurturi, iar acum are 65, iar numarul lor creste cu alte cinci, sase magazine in fiecare luna, spune el.

Piata produselor de lux din Brazilia era estimata in 2009 la 6,7 miliarde de dolari. Expertii anticipeaza o crestere cu 11,5% pana la sfarsitul acestui an.

Sursa: Stirile ProTV din 4 septembrie 2010

15.9.10

Ce poate invata Romania de la Brazilia?

Mereu cautam modalitatile cele mai usoare pentru a invata, indiferent de situatie, de aceea am si ajuns la concluzia ca practica faciliteaza mult acest proces de asimilare. Invatam din practica, deoarece, de multe ori, teoria nu se potriveste cu realitatea. Sau dimpotriva, in viata de zi cu zi gasim mai multe resurse decat ni se ofera pe hartie. Acelasi lucru este valabil si pentru piata de outsourcing din Romania, care are de invatat din hotararea de care da dovada Brazilia in a ajunge printre cei mai buni in acest domeniu.

Daca jucatorii de pe piata romaneasca de externalizare ar urma drumul ales de Brazilia ar castiga destul de mult, deoarece beneficiem de avantaje importante in comparatie cu aceasta tara. In primul rand, nivelul de pregatire si de specializare al persoanelor implicate in industria de outsourcing IT este mult peste nivelul pietei braziliene. La aceasta adaugam costurile mai scazute pe care le implica decizia de externalizare a activitatile IT in Romania.

Dar sa vedem care este drumul parcurs de Brazilia pana in acest moment in industria de outsourcing IT…


Expansiunea este cuvantul de ordine aferent perioadei actuale, serviciile de externalizare respectand si ele tendinta globala. India si tarile asiatice detin influenta covarsitoare pe aceasta piata, dar au inceput sa apara noi pioni pe aceasta tabla de sah. Printre acestia se numara si Brazilia, care si-a propus sa fure o cota importanta din jocul condus pana in prezent de India si China.

Este un obiectiv inalt, pe care unii il vor considera ca fiind visator, dar planurile ambitioase pe care si le-a propus sunt sustinute de eforturi considerabile, ce vor produce o surpriza placuta pe piata de outsourcing IT.

Cu ce resurse vine Brazilia in aceasta lupta? Cu mai mult de 4.000 de companii IT, Brazilia fiind deja al doisprezecelea producator de pachete software si servicii IT ca si marime. Datele statistice sunt si ele favorabile acestei tari, aratand o crestere a exportului de la 800 milioane $ in 2007 la 3 miliarde in 2009. Si asta nu e tot, deoarece Brazilia vine cu un element ce ii va aduce cu siguranta succesul, si anume, increderea in fortele proprii. Din acest motiv, obiectivul actual al Braziliei este sa investeasca 5 miliarde $ in serviciile de outsourcing IT in acest an.

Potrivit datelor preluate din Economist Intelligence Unit, cheltuielile IT din Brazilia detin un procent de 1.7% din totalul PIB-ului. Totodata, se estimeaza ca aceasta tara va inregistra a treia rata de crestere economica din lume pana in 2020 – ceea ce aduce vesti bune pentru industria tehnologica locala, din moment ce se cunoaste faptul ca o crestere a PIB-ului va duce la o crestere a cererii pe piata IT.

Concluzie? Cuvantul dezvoltare sustinuta se poate defini in prezent prin exemplul Braziliei, iar Romania poate invata cu succes din atitudinea ei.

Moment de magie… Brazilia traieste un moment magic atat in ceea ce priveste politica aplicata, cat si ca stabilitate economica, iar aceasta realitate se reflecta si in industria tehnologica. Efectul scontat al potiunii magice aplicate Braziliei este de a ajunge in primele trei destinatii de outsourcing IT, fapt pentru care se utilizeaza toate ingredientele de care dispune.

In ciuda aspectului "mistic" de care dispune, si aceasta tara mai poate lucra la anumite capitole. Punctele cheie ce trebuie imbunatatite includ punerea in aplicare a reformelor ce privesc taxele si piata muncii. Odata indeplinite aceste obiective se va inregistra o crestere a atractivitatii Braziliei pentru companiile de IT.

Expertizele – factor cheie… Brazilia beneficiaza de un numar impresionant de specialisti IT – aproximativ 1,7 milioane de persoane lucreaza in acest domeniu in prezent, iar din urma vin 100.000 de absolventi ai facultatilor de IT&C. Trebuie sa semnalam totusi o problema a acestei tari, si anume limba utilizata in cadrul afacerilor derulate, ce trebuie trecuta pe lista lucrurilor de rezolvat. Dar sa nu credeti ca brazilienii nu s-au gandit la acest aspect. Din contra, au si pus la dispozitia firmelor cursuri profesionale de engleza.

Desi Brazilia nu este o destinatie ieftina in comparatie cu India, din punctul de vedere al taxelor si a monedei nationale puternice, exista anumite avantaje ce compenseaza aceasta situatie. Climatul politic stabil, fusurile orare similare celor din America de Nord si Europa, la care se adauga o potrivire culturala adecvata clientilor din acele regiuni recomanda Brazilia in detrimentul concurentei asiatice. Marile companii de servicii IT din Brazilia,au contribuit la accelerarea utilizarii tehnologiei in cadrul serviciilor financiare, industriei, retail-ului si sectorului public: aceasta tara a fost printre primele care au adoptat votul electronic.

Guvernul brazilian sustine potentialul acestei tari in ceea ce priveste partea de IT, desi este constient de faptul ca mai sunt multe de facut in ceea ce priveste reducerea taxelor apasatoare pentru investitori. Reducerea contributiilor sociale aferente firmelor cu 50%, in functie de nivelul exporturilor, este deja implementat, la fel ca si reducerea taxelor pe venit cu 200% pentru cei ce isi stabilesc cheltuieli cu training-urile, cercetarea si dezvoltarea companiei.

Premise favorabile Braziliei… Companiile straine nu au pierdut timpul si au pasit repede pe teritoriul brazilian pentru a profita de avantajele mediului de afaceri favorabil.

India este mult mai experimentata si mai matura decat Brazilia in tot ce inseamna servicii IT, dar beneficiile de a paria pe o regiune ce este in plina lansare cuprind dedicarea si loialitatea fortei de munca fata de clienti si obiectivele stabilite de acestia.

In ciuda aspectelor spectaculoase pe care le prezinta Brazilia in domeniul IT, exista si parti mai putin atractive ce ar trebui luate in calcul de cei ce decid destinatia de outsourcing a anumitor activitati. Brazilia s-a concentrat pentru multi ani pe cresterea pietei interne, fapt pentru care firmele de IT nu au trebuit sa se orienteze spre exterior. Aceasta inseamna ca multe firme nu sunt pregatite sa deruleze afaceri in engleza la toate nivelele – desi majoritatea persoanelor pot lucra mai bine in engleza decat in portugheza.

Outsourcing-ul IT este mult mai ieftin decat in SUA, dar nu se poate compara cu India si tarile asiatice. Din acest motiv Brazilia este un loc in care companiile se duc pentru expertiza inalta de care dispune si pentru flexibilitatea pe care o acorda.

Ce ar putea sa invete Romania din atitudinea Braziliei? In primul rand, hotararea de a se pozitiona printre cei mai buni in cel mai scurt timp si folosirea tuturor resurselor de care dispune pentru indeplinirea acestui obiectiv. La acestea adaugam implicarea statului in sustinerea expansiunea pietei de outsourcing, ce trebuie sa constientizeze importanta si beneficiile importante pe care le aduce aceasta industrie ajunsa la maturitate.

Sursa: Articol Ce poate invata Romania de la Brazilia?, din 23 iunie 2010, publicat pe blogul firmei Class IT Outsourcing.