27.9.13

A quéda de Bucarest em 1916

Em 08 de dezembro de 1916, o Correio Paulistano, em artigo de capa, intitulado A quéda de Bucarest, anunciava a entrada das tropas alemãs na capital romena, ocorrida dois dias antes, no contexto das ações da I Guerra Mundial. O texto original encontra-se abaixo reproduzido (na foto, tropas alemãs, comandadas por Erich von Falkenhayn, entram em Bucareste no dia 06 de dezembro de 1916):

Bucarest cahiu ante-hontem, como se previa desde alguns dias, em poder dos allemães. Está vencida a primeira e principal “étape” da acção dos exercitos centraes lançados contra a Rumania, exercitos que muitos julgaram condemnados a afogar-se no Danubio ou a ficarem sepultados nas ravinas do Caucaso [nota do blog: o autor decerto confundiu o Cáucaso com os Cárpatos]. Quando a Rumania se decidiu a entrar na guerra, a estrategia dos optimistas traçou um circulo, sobre a carta da Europa, abrangendo a Transylvania, a Dobrudja e a Bulgaria, e exclamou convictamente: “É aqui que vamos travar o prélio decisivo; é aqui que a estrella da Allemanha empallidecerá para todo o sempre”. Esses optimistas acordam agora, sobresaltados, do seu mau sonho. De facto, quaesquer que sejam as restricções, as metamorphoses e as gymnasticas de polemica que se façam em torno dos acontecimentos balkanicos, a ninguem é permittido duvidar do desastre que a conquista de Bucarest, sobrevinda a uma série de operações quasi fulminantes, representa para os alliados. Desastre militar, pois que o exercito rumaico não tornará a refazer-se deste golpe; desastre estrategico, pois que está absoluta e irremediavelmente mallogrado o principal objectivo que arrastar os alliados aos Balkans; desastre politico, porque nesta altura da guerra um facto de tão grande importancia abala as mais solidas convicções acerca do desenlace da conflagração; desastre moral, porque as potencias da “entente”, abandonando os rumaicos á sua sorte, deram provas, ou dum grande egoismo, ou duma grande impotencia... A responsabilidade dos acontecimentos da Rumania provocou já uma crise parlamentar na Russia, atirou a terra com o governo inglez, abalou a situação politica franceza. Cada qual accusa os outros de culpas em que todos foram solidarios. Que importa agora, porém, destrinçar responsabilidades, si estamos em presença do irremediavel? Não serão a discussão azeda nem as acres accusações que lograrão restabelecer um prestigio tão duramente ferido pela quéda da capital rumaica.

Seria curioso saber-se o que, dos acontecimentos, pensarão os rumaicos, que entraram na guerra de má vontade, impellidos pelo sr. Bratianu e pela Russia. A Rumania estava ligada, desde tempos afastados, por um tratado de alliança, á Austria-Hungria, tratado a que mais tarde adheriram a Allemanha e a Italia, pela força da situação em que o equilibrio europeu mantinha estas grandes potencias. Quando a guerra rebentou, o rei Carol, então ainda vivo, quiz que a Rumania cumprisse a letra dos seus tratados, declarando-se ao lado dos imperios centraes. Mas a resistencia que encontrou foi grande. O egoismo nacional pendia para a neutralidade absoluta e só se manifestava a favor da participação na guerra, ao lado do grupo de belligerantes que tivesse mais probabilidades de victoria, e no momento opportuno. Varias vezes se julgou, na Rumania, chegada essa opportunidade. Assim succedeu quando os russos invadiram a Galicia e se apoderaram de Lemberg e de Przemysl. Mas, o que se passou depois, logo dissuadiu os rumaicos das suas velleidades ambiciosas. Finalmente, em meados do corrente anno, a opportunidade da intervenção pareceu evidente. Brussiloff invadia a Galicia e a Bucovina; começara a energica offensiva do Somme; os alliados reforçavam poderosamente o exercito de Salonica. Bratianu decidiu a guerra. Mas, como a opinião publica reluctasse em acceitar o sacrificio que exigiam do paiz, combinou com a Russia o famoso “ultimatum” de 27 de agosto, no qual o governo de Petrograd collocava a Rumania num dilemma terrivel: ou entrava na guerra ou seria invadida pelos moscovitas, pela fronteira não defendida, porque os russos tinham necessidade de atacar a Bulgaria. A guerra foi declarada; a Rumania tomada sob a protecção da “entente”; a Transylvania invadida. Tudo pareceu facil a principio, até que os allemães começaram a mover os seus exercitos para oriente. Hoje, os rumaicos começam a pensar que nada pode já salval-os da sorte da Servia; e têm motivos de sobra para se arrependerem de ter abandonado uma neutralidade proveitosa, confiados em illusões, ou em promessas que os alliados não quizeram ou não puderam cumprir.

A Rumania, um foco de intrigas politicas

Em sua edição de 19 de setembro de 1926, o jornal brasileiro Correio da Manhã publicava o artigo A Rumania, um foco de intrigas politicas, abaixo reproduzido:

Emquanto Bucarest, a pequena Paris dos Balkans, ainda commenta os feitos tão mysteriosamente cheios de caprichos do principe Carol, o rei Ferdinando e a rainha Maria, vivem quase afastados do mundo num enclausuramento no palacio Cotrocino.

A rainha Maria da Rumania e o seu neto Mickel, proclamado principe herdeiro, em logar do seu pae o principe Carol

Desgostos de familia mudaram a vida dos soberanos.

O procedimento do principe Carol, para com a sua esposa, estarreceu a nação que, entre commentarios furtivos, procura sondar o seu futuro politico. Há presentemente na Rumania uma atmosphera de presagios inquietantes. Grupos com tendencias revolucionarias juntam-se nas viellas e lados sombros das ruas, em attitudes suspeitas, como se tivessem receio de qualquer coisa.

Nessa pittoresca Rumania, élo curioso entre as variedades multiplas do Oriente e do Occidente, existe o mais perfeito serviço de policia secreta imaginavel. Nos aerodromos e estações ferroviarias, até jornaes são confiscados aos viajantes, para que o povo não chegue a saber o que o mundo pensa da rainha Maria, do principe Carol e da regencia do seu filho que conta apenas 4 annos de idade.

Da imprensa, não se póde dizer que viva sob uma vigilancia garroteante e que jornalistas encham presidios e fortalezas, mas a atmosphera é como se assim fosse. O pequeno grupo que manda no paiz, governa com mão de ferro.

Aconselhados por membros da realeza estrangeira, que enaltecem a grande força da primogenitura nos thronos vacillantes da Europa, a Rumania tudo tem feito para induzir o principe Carol a desfazer a sua abdicação, considerada perigosa para a nação. Dahi a grande tolerancia dos soberanos e gabinete.

Não se acredita na Rumania que uma questão de amores bohemios tivesse levado o principe Carol a abdicar. A razão prende-se a causas politicas de Bucarest e a intrigas do gabinete.

O governo da Rumania é accentuadamente parlamentar, de força monarcha limitada e quasi nulla. Teria Carol se rebellado, contra a espectativa de succeder a uma corôa quasi sem força e significação?

Sendo demasiadamente novo o principe herdeiro, filho de Carol, foi constituida até uma Regencia para governar, caso o rei Fernandino [sic] não viva até que o jovem chegue á maioridade, o que é o mais certo, visto já contar o velho monarcha mais de 60 annos de idade. Nessa Regencia preventiva figuram personalidades hostis ao principe abdicante.

Emquanto a rainha Maria curte as suas maguas no palacio-monasterio, o pequeno grupo que governa a Rumania enfrenta grandes problemas.

Antes da guerra, esse paiz era o mais uniforme e governavel dos Balkans.

Como premio e compensação na participação da causa dos Alliados, tem hoje o duplo da sua antiga população e mais do dobro do territorio. Mas perdeu o seu todo homogeneo.

A Bessarabia, por exemplo, é um nucleo de perigos. Essa antiga provincia russa foi adquirida pela Rumania, pelo tratado de 1920, entre a Inglaterra, França, Italia e Japão.

Embora mais da metade da população da Bessarabia seja de origem rumaica, apezar de ter alphabeto proprio e falar lingua differente, tem como contra peso a classe dos camponios, aversa ás coisas de Bucarest, e ao proprio rei, que já foi alvo de attentados. E a situação peorou ainda mais com o recente tratado de neutralidade russo-allemão que parece dar á Russia uma mão livre sobre possiveis acções relativas á sua antiga provincia.

Bucarest teme que os camponezes adversos á Rumania se desliguem e peçam immediata incorporação á Russia.

Outro presente desagradavel da guerra foi a Bukovina, e parte oriental do Banat, onde lavram fundos desgostos.

Bratiano, figura influente da côrte e chefe político, quer a Rumania para os rumaicos, e estabeleceu que qualquer empresa que explore as unicas minas de petroleo e mineraes do paiz, se obriguem a deixar 55% das acções em mãos de capitalistas nacionais. Por mais que seja procurada pelo capital estrangeiro, os capitalistas que ali vão ter, têm que se submetter aos termos draconianos de Ioney Bratiano.

Os recursos economicos e financeiros do paiz estão em mãos dos exclusivistas apaixonados.

Quando, por exemplo, a filha do principe Stirbey casou-se com um inglez, perdeu, por lei, a sua nacionalidade e direitos hereditarios a certas propriedades rumaicas. O conselho de ministros, porém, abriu uma excepção especial e restaurou os direitos perdidos da princeza. Esses favoritismos afundam cada vez mais os desgostos latentes e a nação vive saturada de dissenções que podem tornar-se ainda mais perigosos.

Nação mais importante dos Balkans, com 16 milhões de habitantes, a Rumania parece não contar com as sympathias apparentes da Hungria que, maguada pela invasão de 1919, tem sentimentos de inveja e despeito.

Os rumaicos, diga-se desde já enfrentarão qualquer crise com altivez. Elles têm o sangue dos romanos colonisadores que, sob a chefia de Trajano, desenvolveram a fronteira da provincia de Dacia. Possuem uma cultura propria, canções nacionaes por Carpathos e Danubio. Na sua historia luzem Miguel, o bravo e Stephen, o grande.

O rei é filho [nota do blog: o rei Ferdinand I era na verdade sobrinho de Carol I] daquelle rei Carol cuja esposa foi Carmen Sylvia. A rainha Maria é neta da rainha Victoria, e estimadissima pelo seu povo, de quem captivou os sentimentos, usando quasi sempre os costumes nacionaes e visitando os humildes de condição, nas suas modestas choupanas.

O facto da população conservar-se fria á passagem do rei, e indifferente aos desgostos intimos da rainha, enclausurada no palacio Cotrocino, póde significar simplesmente que o povo em geral está ainda surpreso e estarrecido diante dos acontecimentos chocantes dos ultimos tempos e revoltado pelo modo como o governo administra o paiz. Elle cochicha, e conspira, espalhando segredos em surdina pelas viellas e ruas escusas da attraente e brilhante cidade, cuja gente alegre dansa á noite nos cabarets, ao som de cançonetas ciganas. Parecendo ingenuos, têm os rumaicos um pouco mais de intelligencia e sagacidade que os seus visinhos. Sobretudo são mais intrigantes e mexeriqueiros.

Pode ser que essa constante vigilancia e critica sardonica ás condições incertas da Rumania, seja uma circumstancia necessaria á sua propria conservação.

As Aventuras do Rei Carol em Londres

Em 15 de setembro de 1940, a Folha da Manhã, um dos principais jornais de São Paulo naquela época, publicava um curioso artigo intitulado As Aventuras do Rei Carol em Londres, com subtítulo Através do "dossier" de um agente da Scotland Yard - Revelações sensacionais, abaixo reproduzido na grafia original (na foto, o rei Carol II e Elena Lupescu, provavelmente em 03 de julho de 1947, dia de seu casamento no Copacabana Palace no Rio de Janeiro):

Depois de muito considerar, decidi confiar ao papel os detalhes do meu mais importante caso de investigação particular, que no meu "dossier" se encontra sob o titulo de "Carol da Rumânia". A data, abril de 1928.

Eu estava afastado das minhas funções oficiais na Scotland Yard, depois de 18 anos de serviço especial, e consequentemente livre para qualquer comissão concernente à minha especialização. Desejo esclarecer perfeitamente que se trata de um caso particular e que em hipótese alguma estava eu trabalhando para as autoridades britânicas.

Naquela época, Carol da Rumânia era um exilado passeando pela Europa com sua favorita, a moderna "Pompadour", Mme. Lupescu. Sua esposa, a princeza Helena da Grecia, com quem se casára em 1921, tendo desse casamento um filho nascido em 1923, permanecia na Rumânia e o menino fôra proclamado rei, com o governo exercido por uma regência.

A influência de Mme. Lupescu sobre ele era muito forte e por ela era inteiramente dominado; ele ia de país em país buscando um santuário para seus amores. Que espécie de mulher seria esta que até hoje controla a vontade de Carol, mesmo ocupando um trono? Ela é de altura mediana, cheia de corpo. Cabelos ondulados, de um ruivo acentuado - uma côr perigosa, segundo dizem os prudentes. Porém, o traço mais notavel nesta notavel beleza são os olhos que brilham, ora com ardor, ora desafiantes, ostentando uma tonalidade verde jade. Madame Lupescu é judia, com o encanto sazonado das mulheres desta raça. Veste-se absolutamente na moda, vestidos justos para revelar o talhe, e é louca por peles de raposa prateada. Pouco esforço e pintura necessita para aumentar seus atrativos.

Em companhia da atriz principal de um dos mais sensacionais dramas politicos de todos os tempos, Carol, o exilado, chegou à Inglaterra usando seu titulo de principe. Imediatamente apelou para o Home Office, solicitando permissão para residir permanentemente em solo britânico - a Inglaterra é um lugar famoso para a realeza exilada -, mas não obteve o que desejava.

O principe Carol foi advertido das condições sob as quais ele e Mme. Lupescu tinham tido permissão para ficar na Inglaterra, principalmente de que podia permanecer dois meses desde que guardasse as conveniências.

Segundo se depreende, não coincidiam as noções do principe Carol e do governo britânico sobre a maneira de guardar as conveniências...

Em abril de 1928, pouco tempo antes da chegada do principe, fui procurado por certos cavalheiros em Paris, membros da facção contra Carol no governo da Rumânia, solicitando meus serviços e de meus ajudantes na vigilância dos exilados com a apresentação de constantes relatórios sobre os seus movimentos. Era claro que o governo rumaico receava uma conspiração para Carol retomar ao trono.

Aceitei a incumbência. No mês de maio de 1928, Carol chegou à Inglaterra e eu reuni meus auxiliares para a vigilância. O casal rumou para uma encantadora residência no condado de Survey.

*

É lógico que, abrigando visitantes reais, a casa se tornasse interessante para os curiosos. Motoristas, gente em passeio, paravam frequentemente seus carros na estrada fronteira, sonhando ver os reais amantes. Vigiava a casa a polícia oficial alugada para protegê-los - serviço especial da Scotland Yard - e meus auxiliares.

Mensageiros do telégrafo transpunham constantemente os portões; carteiros carregados de correspondência e reluzentes automoveis iam e vinham. Quando o principe Carol deixou a casa, tomou imediatamente um carro com cortinas descidas, furtando-se assim completamente aos curiosos.

Os meus vigias nunca relaxavam a vigilância, dia e noite. No dia 8 de maio, o principe foi informado de que devia começar a se movimentar para a partida, mas de que não deveria partir por via aérea. Com desgosto Carol soube que as autoridades tinham conhecimento das ordens que ele dera para dois grandes aviões de passageiros permanecerem no aeródromo de Croydon, prontos a partir com destino desconhecido.

Agora a cena passa-se numa oficina de impressão situada em rua estreita, perto de Seven Dials, no centro de Londres. Imprimiam-se folhetos que ninguem entendia, porque eram escritos em rumaico. Assim que os primeiros milhares ficaram prontos, um mensageiro foi levá-los ao principe. 

Eu tinha conhecimento disso e instruções de Paris para apanhar alguns desses folhetos, o que, para mim, era o ponto principal de todo o caso. Conseguí-lo-ia? O problema era cheio de obstáculos.

Cismava ainda sobre as dificuldades, pesando-as bem, quando o mensageiro chegou com o precioso embrulho, deixando-o na porta da cozinha, bem sob as minhas vistas, coincidindo a chegada dele com a do empregado de uma casa de Londres, trazendo mantimentos e coisas para a casa. Vislumbrei minha oportunidade. Corri logo estrada abaixo e depois de alguma procura encontrei um açougue onde comprei a mais bela perna de carneiro que existia. O açougueiro de certo pensou que eu era um louco rematado, quando pedi que me alugasse uma encardida jaqueta e uma bandeja de madeira para carregar a carne. Vestindo um avental e carregando aos ombros a bandeja, voltei à casa, transpuz o portão e alcancei a porta da cozinha. Bati. Nenhuma resposta. Experimentei a porta, que estava aberta, e empurrei-a. A sorte estava comigo. Ali, no chão da cozinha, de mistura com os mantimentos, estavam os folhetos, facilmente identificaveis pela etiqueta. Em segundos estava de posse de alguns. Foi justamente o tempo de escondê-los no bolso, quando apareceu a creada para apanhar a carne. Minha presença nem foi notada, certamente por causa do avental, da bandeja e da carne; e se naquela noite eles apreciaram o jantar, não tiveram a menor idéia de que fôra o "moço do açougue" o organizador da festa!

Logo depois uma cópia dos folhetos estava a caminho de Paris, via aérea, endereçada àqueles a quem eu servia. Era o conhecido manifesto do principe dirigido aos seus correligionarios na Rumânia. O plano que tinha em mente era voar sobre o seu país e jogar do aeroplano milhares e milhares dos tais folhetos sobre a terra de que desertára.

Naquela noite, ele foi para a cama com calafrios. Na manhã seguinte, o meu colega de alguns meses atrás, inspetor Haines, da Scotland Yard, presenteou-o uma ordem para deixar a Inglaterra imediatamente.

Na Câmara dos Comuns, o secretário do Interior não escolheu palavras. Ele disse: "Sua presença na Inglaterra não é desejada". 

O grosseiro abuso do principe contra a hospitalidade inglesa voltou-se contra ele mesmo. O mau procedimento que teve não foi tolerado e dois dias depois ele desapareceu, sem encontrar impecilhos, com a sua companheira de cabelos ruivos, para vaguear de novo pela Europa. Telefonei para Paris. Minha missão estava acabada.

Dois anos depois, Carol deu o golpe de estado, voltando, pitoresca e dramaticamente, a Bucarest por via aérea. O seu partido colocou-o novamente no trono, arrebatando a corôa ao menino que foi relegado à situação de principe herdeiro.

A princeza Helena tem a simpatia de todo mundo e atualmente os fascistas da Rumânia são conduzidos por homens que se intitulam "Cavalheiros de Helena", defendendo-lhe a causa.

*

É uma coisa problemática a continuidade do real "eterno triângulo" da Rumânia. Mme. Lupescu - cujo nome traduzido quer dizer Lobo - vive reclusa, guardada, de residência em residência, passando a maior parte do tempo em companhia do seu real amante na Ilha das Serpentes - o misterioso posto militar, na embocadura do Danúbio, que se diz ser infestado por serpentes venenosas...

Dizem que os judeus rumaicos pediram a Mme. Lupescu para deixar o país, porque a presença dela trás a sombra ameaçadora de um possivel massacre sobre eles todos. Realmente, o "Esquadrão da Morte", da poderosa Guarda de Ferro, organização antisemita da Rumânia, tomou solene compromisso de assassiná-la.

Quando o primeiro-ministro rumaico M. Ducas, foi morto, em 1933, em seguida a uma entrevista com Carol, começou um reinado de terror, e ha indicios de um novo reino do terror, a não ser que ela seja banida do país, porque a favorita do rei é profundamente odiada por seus súditos. Durante o ano de 1934, forças poderosas trabalharam no sentido do afastamento da Lupescu e da reconciliação da princeza Helena.

Aqueles que conheceram a "Pompadour" do rei Carol nos primeiros tempos desse espetacular "love-romance", quando em Paris, no Hotel Claridge e na cozinha do Boulevard Bineau, em Neully, e que tiveram ocasião de vê-la recentemente são acordes em afirmar que ela não será por muito tempo a beleza orgulhosa, cujo círculo de magnetismo afrontava acintosamente o mundo. Murmura-se que ela está se tornando silenciosa, mais tímida, e de rosto pálido. E o mundo observa e conjetura sobre o que acontecerá amanhã.