Reproduzo, a seguir, artigo No cinema, romenos lembram Ceausescu para esquecer, de autoria do crítico brasileiro João Daniel Donadeli sobre o filme romeno Como Festejei o Fim do Mundo, publicado em 07 de junho de 2008 no Jornalirismo:
As vítimas dos sistemas ditatoriais querem gritar para o mundo, expor todo o seu clamor por uma liberdade política, social e cultural que seus antigos regimes deles subtraíram. Resgatar os trágicos momentos de sobrevivência, de tortura e angústia vividos é uma forma de exorcizar os efeitos colaterais registrados no inconsciente coletivo.
Por seu poder de expressão, o cinema é um valioso instrumento para a veiculação desses anseios. Os diretores de cinema romenos (como em outros países que viveram sob ditadura) têm feito uso desse instrumento, a exemplo de Como Festejei o Fim do Mundo, de Catalin Mitulescu.
O filme se situa um ano antes da queda do ditador Nicolau Ceausescu (que ficou no poder até 22 de dezembro de 1989, quando foi deposto por uma rebelião popular). O fio condutor se alterna entre a visão juvenil da adolescente Eva (Doroteea Petre) e a de seu irmão mais novo, Lalalilu (Timotei Duma).
As vítimas dos sistemas ditatoriais querem gritar para o mundo, expor todo o seu clamor por uma liberdade política, social e cultural que seus antigos regimes deles subtraíram. Resgatar os trágicos momentos de sobrevivência, de tortura e angústia vividos é uma forma de exorcizar os efeitos colaterais registrados no inconsciente coletivo.
Por seu poder de expressão, o cinema é um valioso instrumento para a veiculação desses anseios. Os diretores de cinema romenos (como em outros países que viveram sob ditadura) têm feito uso desse instrumento, a exemplo de Como Festejei o Fim do Mundo, de Catalin Mitulescu.
O filme se situa um ano antes da queda do ditador Nicolau Ceausescu (que ficou no poder até 22 de dezembro de 1989, quando foi deposto por uma rebelião popular). O fio condutor se alterna entre a visão juvenil da adolescente Eva (Doroteea Petre) e a de seu irmão mais novo, Lalalilu (Timotei Duma).
Eva é uma adolescente com espírito revolucionário, que reivindica sua “liberdade” em um país obscurecido pelo regime ditatorial. Ela e seu namorado, Alexandru (Ionut Becharu), se envolvem em acidente na escola em que estudam, o que faz com que Eva seja transferida para uma escola profissionalizante da periferia. Lá, conhece Andrei (Cristian Vararu), filho de opositores do regime. Os dois irão tramar um plano para fugir da Romênia, que inclui a difícil tarefa de atravessar o rio Danúbio.
Durante a ditadura, muitos romenos tentaram atravessar o Danúbio na direção da antiga Iugoslávia, mas poucos conseguiram: os que não morreram na travessia foram presos e torturados, como exemplo aos demais.
Lalalilu é um menino sonhador, que vive fantasiando possibilidades de se ver livre da opressão em que vive, ainda mais quando a irmã é castigada e forçada a mudar de escola. Aí, então, ele e seus amigos tramam, em suas cabecinhas infantis, um plano para derrubar o temível ditador.
Como Festejei o Fim do Mundo foi concebido de maneira realista, segundo a qual os atores não esboçam sentimentos, mostrando quanto o regime os oprimia. Trata-se de uma obra artística que revela toda a angústia, todo o sofrimento a que o povo romeno foi submetido até o fim de 1989, com a queda de Ceausescu.
As imagens recorrentes de embarcações parecem uma forma de mostrar, metaforicamente, um possível caminho para a sonhada liberdade, um veículo para se navegar em mares distantes, longe da submissão sociopolítica.
Como Festejei o Fim do Mundo, e os também romenos A Leste de Bucareste e 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (este último, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2007), abordam o tema da ditadura, mas cada um o faz com perspectiva própria.
Despretensioso, com muitas elipses e narrado de maneira apática, sem sentimentalismo melodramático, Como Festejei o Fim do Mundo exige a participação do espectador, que mergulha, constantemente, em introspecção, colaborando com a construção intelectual do filme.
Uma obra de arte, um grito de liberdade como este, é algo que nos enriquece e contribui para o diálogo com um país que, como o Brasil, foi vítima dos obscuros mecanismos do poder.
Durante a ditadura, muitos romenos tentaram atravessar o Danúbio na direção da antiga Iugoslávia, mas poucos conseguiram: os que não morreram na travessia foram presos e torturados, como exemplo aos demais.
Lalalilu é um menino sonhador, que vive fantasiando possibilidades de se ver livre da opressão em que vive, ainda mais quando a irmã é castigada e forçada a mudar de escola. Aí, então, ele e seus amigos tramam, em suas cabecinhas infantis, um plano para derrubar o temível ditador.
Como Festejei o Fim do Mundo foi concebido de maneira realista, segundo a qual os atores não esboçam sentimentos, mostrando quanto o regime os oprimia. Trata-se de uma obra artística que revela toda a angústia, todo o sofrimento a que o povo romeno foi submetido até o fim de 1989, com a queda de Ceausescu.
As imagens recorrentes de embarcações parecem uma forma de mostrar, metaforicamente, um possível caminho para a sonhada liberdade, um veículo para se navegar em mares distantes, longe da submissão sociopolítica.
Como Festejei o Fim do Mundo, e os também romenos A Leste de Bucareste e 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (este último, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2007), abordam o tema da ditadura, mas cada um o faz com perspectiva própria.
Despretensioso, com muitas elipses e narrado de maneira apática, sem sentimentalismo melodramático, Como Festejei o Fim do Mundo exige a participação do espectador, que mergulha, constantemente, em introspecção, colaborando com a construção intelectual do filme.
Uma obra de arte, um grito de liberdade como este, é algo que nos enriquece e contribui para o diálogo com um país que, como o Brasil, foi vítima dos obscuros mecanismos do poder.
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