22.12.07

1989: Revolução romena vista do Brasil

Eis o artigo publicado no sábado, 23 de dezembro de 1989, pelo jornal Folha de S.Paulo:
Uma rebelião popular depôs ontem o ditador romeno Nicolau Ceausescu. Milhares de pessoas invadiram o palácio presidencial em Bucareste (capital). O ex-chanceler Corneliu Manescu anunciou às 12h40 que um Comitê da Democracia Nacional tomou o poder. Ceausescu deixou o palácio de helicóptero. O Exército aderiu à revolta. Forças leais ao ditador reagiram. A polícia política atirou em manifestantes na praça da República, coração da capital. Tropas rebeldes dominaram a praça após duas horas de luta. Havia centenas de corpos nas ruas. Ocorreram combates em todo o país. Até a noite o paradeiro de Ceausescu era ignorado. A TV estatal diz que ele deixou o país. O novo governo prevê eleições em abril. Ceausescu, 71, foi eleito chefe do Partido Comunista em 65. Impôs um regime despótico. Corneliu Manescu, 73, o líder rebelde, foi ministro do Exterior de 61 a 72. Cumpria prisão domiciliar há 9 meses por se opor ao ditador. A Romênia é o último país do Pacto de Varsóvia a sofrer reformas.


Multidão
invade o Palácio e derruba Ceausescu


Uma
multidão, estimada em milhares de civis, invadiu ontem o Palácio Presidencial de Bucareste (capital da Romênia) e derrubou o dirigente Nicolau Ceausescu, 71, no poder há 24 anos. Era o último dirigente antiperestroika do Pacto de Varsóvia.

Um helicóptero partiu às 13h45 locais (9h45 de Brasília) do alto do palácio com Ceausescu e sua mulher, Elena, que era vice-primeira-ministra.

Às 12h40, o ex-chanceler Corneliu Manescu anunciou pela rádio e TV que o Comitê da Democracia Nacional, encabeçado por ele, havia derrubado Ceausescu e tomado o poder. Segundo a agência oficial romena Agepress, o comitê é formado por "comandantes militares independentes, estudantes que lideraram a luta para a derrubada do antigo regime e intelectuais". Milhares de pessoas saíram às ruas para comemorar.

Um funcionário do governo polonês disse à agência de notícias "Reuters" que Ceausescu tentou falar aos manifestantes de um terraço do palácio, pouco antes de fugir. As vaias o impediram. Sob os gritos de "assassino", Ceausescu saiu do terraço.

Os protestos contra o dirigente foram retomados ontem às 6h. Os manifestantes - cerca de um milhão, segundo a agência de notícias "France Presse" - levavam velas na mão e gritavam "o Exército nos apóia". Às 9h50, decretou-se estado de emergência.

A multidão não se dispersou. Retratos de Ceausescu foram queimados. Os manifestantes subiam nos tanques e abraçavam os soldados. Às 12h20, tanques e soldados voltaram aos quartéis.

Os civis invadiram o Palácio Presidencial, a sede do Conselho de Estado e a do Comitê Central (direção do PC romeno). Um grupo alcançou o balcão de onde Ceausescu costumava discursar.

Os rebeldes tomaram as cidades de Timisoara e Sibiu. Segundo a TV romena, a água dessas cidades foi envenenada.

Após a fuga, o helicóptero de Ceausescu desceu perto de Tirgoviste. O ex-dirigente e Elena tomaram um carro, trocaram-no na cidade, mas foram detidos em Tirgoviste.

Às 22h, a TV romena informou que Ceausescu conseguiu escapar e sair do país. No começo da tarde, circularam rumores de que ele tinha fugido para a China. A TV húngara informou de madrugada que Ceausescu havia sido capturado pelo Exército e era levado para Bucareste.

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