9.6.10

Dom Pedro II em Iasi

Era conhecida a predileção do imperador brasileiro em viajar incógnito. Pesava-lhe a coroa, gostava de cruzar as fronteiras e de ser recebido simplesmente como Pedro d'Alcântara. O cerimonial o enfastiava e tomava seu tempo, que preferia usar para conhecer lugares novos, conversar com grandes personalidades de sua época e estudar.

Sua viagem, em 1876, por aquilo que é hoje o atual território da Romênia, deve ter tido muito sucesso nesse sentido, pois são raríssimas as fontes que mencionam sua passagem. Segundo Couto Bulhões, após partir de São Petersburgo no início de setembro para Moscou, Dom Pedro II teria chegado em 18 de setembro à Criméia, para se encontrar com o tzar Alexandre II em sua residência de verão. Em 14 de novembro de 1876, o imperador chegava ao porto de Beirute. Ora, deparamo-nos aqui com quase 2 meses sobre os quais se conhece apenas a sua passagem por Odessa - onde foi convidado a ler a Torá na sinagoga local no dia 22 de setembro -, Constantinopla e Atenas. Onde teria passado Pedro d'Alcântara o resto de todo aquele tempo?

Couto Bulhões, tenaz em sua minuciosa pesquisa e tendo acesso a inúmeros arquivos, descobriu o registro de um certo Conde "Petru Alcantara" como hóspede especial de Carol I no Palácio Roznovanu de Iasi em 29 de setembro de 1876.

Parece que o soberano brasileiro insistira em visitar a capital moldava sobretudo para conhecer Avram Goldfaden, artista sobre o qual ouvira falar em Odessa e que acabara de se instalar em Iasi e lá fundar o primeiro teatro iídiche do mundo.

Infelizmente não se sabe com certeza se o encontro com Goldfaden aconteceu, mas outro, relativamente mais importante, teve lugar em Iasi com o diretor da Biblioteca Central, um jovem brilhante de 26 anos e cabelos fartos que era ninguém mais ninguém menos que Mihai Eminescu - o poeta nacional romeno (retrato ao lado, de 1869), que se tornou seu cicerone ao guiá-lo pelo Museu de História Natural, o Jardim Botânico, a Universidade de Medicina - primeiras instituições desse tipo no território romeno -, o parque Copou e o mosteiro Trei Ierarhi.

"Almocei com Eminesco, que logo conheci pela fotografia. De Eminesco não é preciso falar. Deu-me um maço de poemas de sua própria lavra, impressos na revista Convorbiri literare e, depois do almoço, passeamos bastante pelo parque Copou, fazendo-me ele muitas perguntas acerca do Brasil", anotou Dom Pedro II em seus apontamentos de viagem. [A continuar.]

Un comentariu:

José Santini spunea...

Que nota incrível! Conheceram-se Eminescu e o Imperador; na Romênia!?

Que grande descoberta memorialística! Descoberta que, imagino eu, deve ter custado não muito trabalho ao historiador brasileiro.

Obrigado por postar a descoberta, Fernando.