Reproduzo a seguir artigo publicado em 01 de outubro de 2007 por Myrna Silveira Brandão, intitulado "Cinema romeno mostra sua vitalidade":
Novo filme de Mungiu aborda tema polêmico com delicadeza
O novo filme de Cristian Mungiu – 4 meses, 3 semanas e 2 dias (4 luni, 3 saptamini si 2 zile) – é um exemplo da proeminência que o cinema romeno vem adquirindo no cenário internacional .
Tanto que – após ganhar a Palma de Ouro no último Festival de Cannes – foi incluído na programação da 45ª edição do seleto Festival de Nova York . O título tem tudo a ver com o tema que o filme aborda. Os quatro meses, três semanas e dois dias referem-se ao período de gravidez de uma jovem que vai se submeter a um aborto .
O filme começa com cenas focalizando um dormitório universitário em 1987, onde as amigas Gabita (Laura Vasiliu) e Otília (Anamaria Marinca) repassam as necessidades do dia . Apesar de não ser claro ainda o evidente nervosismo das duas mulheres , Gabita permanece no quarto , enquanto Otília sai para fazer reserva num hotel e para encontrar um certo Mr. Bebe (Vlad Ivanov). Ele é um aborcionista ilegal – e de muitos outros baixos princípios – e fica muito irritado quando descobre que a jovem Gabita está com a gravidez muito mais adiantada do que havia lhe dito e resolve se aproveitar da situação . Além de aumentar o preço que cobraria para realizar o aborto , exige favores sexuais das duas mulheres que , sem condição de outras alternativas , acabam se submetendo.
Após as constrangedoras cenas dos estupros e da realização do aborto , Mr. Bebe insere um tubo em Gabita, dá instruções para as duas amigas e vai embora . A seqüência é tomada com a câmera fixa durante um longo plano mostrando o corpo de Gabita esticado, joelhos para cima , se estendendo através da tela inteira .
Ao abordar o polêmico tema do aborto , Mungiu não tinha a intenção de chocar como foi, por exemplo , o caso de Vera Drake, de Mike Leigh, mas o diretor se aproxima do cinema de Leigh quando busca um viés similar , através da concentração intensa no personagem de Vasiliu. A propósito , a interpretação das duas atrizes é extraordinária , não apenas na forma como transformam os diálogos do roteiro em fala real , mas também na habilidade de expressar todas as suas lutas internas, na maior parte das vezes , através do silêncio .
Énotável a cena que mostra Otília – logo após sua amiga ter sofrido o aborto – hesitantemente deixando o hotel para participar da festa de aniversário da mãe de seu melhor amigo , Adi (Alex Potocean). As seqüências mostram um desempenho extraordinário da atriz . Com a câmera centrada em Otília, sentada tensamente à mesa junto com os outros convidados , um sentido de desconforto toma conta da personagem e a jovem mulher silenciosamente vai expressando suas emoções num crescendo , até que elas quase que explodem na superfície .
Ofilme de Mungiu traz todos os elementos do novo cinema romeno – tomadas longas, câmera controlada e diálogos deliberadamente naturais . O diretor filma cada cena em apenas uma tomada . A câmera ora está parada enquanto os personagens transitam pelo seu foco , ora os segue na medida em que eles caminham.
Fica nítida a meta do diretor de visualizar , através de uma história límpida e profundamente humana, o enorme peso das aflições que destruíram sonhos de muitas pessoas durante os anos terríveis da ditadura de Nicolau Ceausescu.
Fonte: Mnemocine
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Fonte: Mnemocine
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